Arquitetura Parasita 1

            Para a arquitetura parasita, problematizar o espaço foi um dedo na ferida mais demorada. Em 2019, depois de 4 anos no que foi a décima segunda morada, se não me engano, a necessidade levou-nos a mais uma mudança. Uma semana após a morte da minha avó nos mudamos para esse que chamamos de “apertamento”. Com isso, o espaço aqui de fato acabou sendo um problema, a tentativa de fazer desse lugar um lar talvez até hoje ainda seja muito difícil. A todo momento nos esbarramos e a privacidade parece estar sempre sendo invadida, não há mais espaço para recebermos visitas. Se por muitos anos a casa foi, além de morada, mas também de abrigo para o outro e para a alegria de receber, pessoas, carinhos, comidas, aprendizado, agora a casa é mais do que tudo um esforço pela adaptação e a luta contra o desconforto.

            O quarto dentro disso tudo deixou de ser um espaço-ateliê-descanso-sala-de-estar para então ser uma caixa compartilhada. Dessa forma, a ressignificação desse espaço com o período pandêmico veio com tudo e agora para a tarefa de agregar com certeza eu escolheria uma extensão, algo que pudesse isolar o ser desse espaço de poucos metros quadrados. A janela que é comprida e se retirada poderia ser facilmente uma passagem para o lado de fora. A quina do edifício dá espaço para um parasita que abrace as paredes. Penso muito em casulos e como eles parasitam por exemplo, em árvores ou até mesmo vigas e muros. A organicidade da intenção do material me faz pensar também em ninhos de passarinhos, no casulo das borboletas e no filme do Spike Jonze: Onde vivem os monstros, no qual os personagens constroem aquilo que seria o castelo com uma forma a se parecer com um ninho. Ou talvez, no mesmo filme, quando eles destroem suas próprias casas. Quem sabe o parasita não seja destruído?

            Na observação das necessidades, também lembro dos cubos brancos das galerias pós-modernas. Talvez com um telhado de vidro. Mas já não me faz tanto apreço.

            Infelizmente apareceu uma tendinite na minha mão direita. Natália, minha analista diz que não é um sintoma completamente biológico, talvez eu concorde com ela. Parece que esse “apertamento” tem nos parasitado. Pode ser que eu gostaria de fazer um parasita para outra dimensão. Assim como música polonesa.


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